Quantas vezes disseste sim, quando o teu coração dizia não?
Por entre os ruídos do dia ouvi assim: – Para quê o correto se não é o certo? Que esperança Ilusória queres perpetuar?
Quantas vezes o teu corpo paralisou e te obrigaste a avançar? E quantas vezes o teu corpo estava num frenesim ansioso por se movimentar e estagnaste? Que crenças e traumas se arrastam no continuar dos dias, e não falo dos que ainda estão perdidos no manto do esquecimento? Falo-te daqueles que já trouxeste à luz e decides em consciência prolongar na tua vida?
Estas últimas semanas tenho trabalhado profundamente em terapia o meu Arcano “O Enforcado”, para quem não conhece convido a pesquisar a sua imagem. A minha interpretação desse símbolo neste momento da minha vida é que o sofrimento é uma ilusão. Uma escolha. E traz cansaço. Melancolia. Pois é mais difícil estar nessa posição. E que basta um simples movimento para reconhecer essa realidade. O sol está lá para relembrar essa luz. E que nem é necessário ultrapassar essa montanha que é o sofrimento. Isso seria teimosia. Que podemos apenas ser como a água e contornar. E tudo à nossa volta mostra uma nova perspetiva. A Águia, que vi na imagem que estou a trabalhar, é um lembrete do movimento necessário. Vem trazer o significado de liberdade. Da firmeza. Do olhar amplo e certeiro. A montanha onde ele está a repousar parece feita de material diferente. Palha. Uma ilusão de ótica. O corpo dele não traduz sinais de sofrimento, nem de dor. Ele na verdade está nutrido e saudável. Esta foi a minha interpretação simbólica. E nós precisamos viver os símbolos que nos chegam.
Olhando para o que foi, consigo especificar momentos exatos na minha vida em que eu estive assim, numa ilusão de não movimento e de paralisação. Estava no quarto, eu não estava deitada na cama, eu estava largada, à minha sorte, má sorte pelos vistos que criei para mim. Naquele momento eu pensei: Si, levanta-te e vai embora. Olha à tua volta, olha. Sente o vazio. Não há nada aqui para ti. Para a tua alma. Porque insistes em tentar, em nutrir algo que à partida está sem vida. Quanto apego? As lágrimas caiam-me e o meu corpo continuava ali. Largado. Imóvel. Paralisado.
Em amor, Silvana.