Cama

Que poder pode ter uma cama, senão o poder de ser ela mesma?
No entanto, quando ela se conecta com algo externo ela passa a ser outra coisa que não a sua própria essência: o ser uma cama. Desconecta-se. Dela Própria. Isso é o que acontece connosco em muitas ligações fora de nós. Seja com pessoas, sentimentos, momentos, espaços ou objetos. Perdemo-nos nas conexões pelo apego. Pelo poder. Pelo controle. Deixamos de ser quem somos pelo outro. E isso aconteceu comigo nitidamente.
Com uma cama? Isso. Parece pouco típico, mas é um exemplo da realidade. A minha. A cama foi apenas o elo do apego pelo outro, é a sua materialização.
Ele levou tudo, e deixou apenas aqui o estrado da cama. Podia tê-la levado, mas no final de contas faltaria uma chave para a desmontar. Percebi.
Esse tempo. Essa pausa era o tempo necessário para o desfazer desse vínculo. De apego, não de amor, o amor sempre permanece. Tão forte e porém tão frágil. Não será difícil admiti-lo. É apenas estranho.
Por isso aquela sábia reflexão sobre não podermos apagar aquilo que já foi tocado. Quando tomamos consciência não dá para voltar atrás. E aqui entra a responsabilidade.
A responsabilidade de olharmos para nós. Para as nossas emoções. Permitir-nos senti-las e não escondê-las. Tudo o que não é manifestado pela voz, pelo corpo, pelas lágrimas que correm muitas vezes sem parar, mais tarde ou mais cedo, é fixo no nosso corpo, em forma de sintoma. Uma dor. Uma doença. Um trauma.
Deixa sair. Permite-te largar o que te prende. Para depois tocares aquilo que te liberta.
Todos sabemos sabemos, o quão desafiante muitas vezes é desatar um nó de um vínculo que não nos é saudável? Que não nos edifica!
Questionamo-nos: – Porque tentamos vezes sem conta? E pior, e mais doloroso, corremos atrás com uma bandeirinha a dizer “olha-me, olha-me, estou aqui! Ainda estou aqui!”. Seja numa relação. No trabalho. Na amizade. Na família.
Quanta descrença pela própria magia da vida. Pela sua sabedoria. E talvez essa chama esteja trémula dentro de ti. E está tudo bem. Só não deixes que ela se extinga. Partilha o que sentes. Pede ajuda. Confia em ti.
Deixa essa luz crescer.
Em amor, Silvana.